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sábado, 26 de dezembro de 2009

SEMPRE TEREMOS PROBLEMAS

Quando duas superfícies que se movem em diferentes direções se tocam, há uma fricção, e onde há fricção há calor. Na operação de todo o nosso maquinário moderno, a fricção é um problema bastante sério. A resistência que uma peça em movimento oferece a uma outra peça pode fazer com que o movimento diminua a velocidade até parar a máquina; ou então o calor gerado pelo atrito pode queimar a coisa toda. Para impedir que isso ocorra, todo contacto entre superfícies é feito com o maior polimento possível, e lubrificantes são passados entre as peças para minimizar a fricção. Sem o óleo lubrificante, as indústrias de uma nação moderna se desgastariam até parar por completo, em poucos minutos.
Toda máquina é uma sociedade de peças metálicas, por assim dizer, tendo cada peça um trabalho a executar para que seja alcançado o propósito para o qual a máquina foi projetada. Peças que são opostas entre si podem até dar impressão de estarem trabalhando uma contra a outra, mas na verdade elas estão trabalhando juntas para um fim comum que ultrapassa a possibilidade de ser atingido se uma peça estivesse trabalhando sozinha – um fim que somente pode ser alcançado mediante os esforços de todo o conjunto.
As peças de uma máquina podem ser tomadas como uma alegoria das sociedades humanas. Um só homem é apenas um homem, mas assim que um outro homem vem e juntar-se a ele, temos uma sociedade de homens. Pelo fato de que dois homens não podem manter-se parados nem em silêncio por longo tempo, essa sociedade elementar logo desenvolve problemas sociais. Os interesses divergentes de dois homens fazem com que eles se movam em direções diferentes e, por estarem em contato, haverá fricção. Agora, em vez dessa simples sociedade de dois homens, pense numa complexa sociedade de homens, mulheres e crianças, e é fácil ver por que o mundo tem problemas. Se a humanidade permanecesse parada, ou se todos os seus membros fossem iguais e tivessem o mesmo interesse, não haveria problemas na sociedade humana. A energia e a atividade dos homens, entretanto, fazem com que uma certa fricção seja inevitável.
Disso tudo nós cristãos temos muito a aprender. Por ser a igreja uma sociedade de seres humanos, os problemas que perturbam famílias e nações são encontrados nela também. Se os cristãos permanecessem separados, somente teriam problemas pessoais, mas por se associarem com outros cristãos, eles têm então problemas sociais também. É verdade que os membros de uma igreja são seres humanos redimidos, mas tal fato não os torna menos humanos em nada. Diferenças de gosto, de temperamento, de opinião, de energia moral e de velocidade de ação entre as pessoas numa comunidade cristã criam uma certa fricção no grupo. Os líderes cristãos que são sábios certamente têm ciência disso antes dos problemas surgirem, e saberão o que fazer quando isso ocorrer.
O que escrevo é para o consolo do povo de Deus, especialmente dos ministros e dos obreiros cristãos. Se na vida prática em nossa comunidade cristã estivermos com noções a esse respeito fora da realidade, somos candidatos a uma amarga desilusão, e talvez a feridas de alma que não se cicatrizarão.
Quando eu era um jovem pregador com o meu diminuto pastorado, eu não tinha ainda suficiente experiência para saber o que esperar. Vim para a obra da igreja com a inocente crença de que as maravilhas do novo nascimento e a presença em nós do Espírito Santo impossibilitariam haver discordâncias e atritos entre santos. Conseqüentemente, da primeira vez que os ânimos se acirraram, isso quase que detonou o meu espírito. Inconscientemente eu pensava que tinha sido chamado para pastorear num rebanho de anjos em vez de um rebanho de ovelhas humanas. Através de orações fervorosas e agonizantes, e de um profundo sofrimento, finalmente pude ver o que eu devia ter visto a princípio: que os cristãos basicamente são seres humanos, e quando se dispõem a viver juntos eles terão problemas da mesma forma que outras coletividades. A igreja é um corpo em que há peças móveis, uma sociedade de muitos membros. Os problemas que surgem em qualquer igreja estão em direta proporção com o zelo, com a atividade e com a energia de seus membros. Isso é inevitável e tem que ser admitido sem hesitação alguma.
Alguns equivocados líderes cristãos acham que têm que preservar a harmonia a qualquer custo, e assim fazem tudo o que podem para reduzir a fricção. Eles deveriam lembrar-se de que não há fricção numa máquina que tenha sido desligada durante a noite. É só desligar a energia, e não se terá problema algum com as peças que se movem. Lembre-se ainda de que há uma sociedade humana que não tem problemas: o cemitério. Os mortos não têm diferenças de opinião. Não geram nenhum calor, porque não têm energia nem movimento. Mas em compensação o que têm é esterilidade, nada realizam.
Qual é a conclusão, então, a que temos que chegar? É que os problemas são o custo do progresso, que a fricção ocorre onde há movimento, que uma igreja viva e que esteja crescendo terá alguma dificuldade a superar, que é decorrente da sua vida e da sua atividade. Uma igreja cheia do Espírito despertará a ira do inimigo.
Como vamos então enfrentar os nossos problemas? Primeiro, esteja preparado para enfrentá-los, de forma a não ser surpreendido por eles. Segundo, perceba que todo corpo vivo de cristãos tem problemas, desde o dia de Cristo com os seus apóstolos até o dia de hoje, e assim você não é o único que os enfrenta. Terceiro, derrame copiosas porções de amor, o melhor lubrificante que há no mundo. O amor reduzirá a fricção a um mínimo e fará com que o corpo todo trabalhe em harmonia e com um mínimo desgaste em suas peças. De onde provém esse amor? O amor provém de Deus, e é dado pelo Espírito Santo, em nosso coração.


Extraídos do livro: Este Mundo: Lugar de Lazer ou Campo de Batalha? - A. W. Tozer).

















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